1. Ao longo deste ensaio irei procurar discutir o problema “deveríamos
tentar alterar o genoma humano de forma que seja impossível nós sentirmos emoções
negativas?”
2. O objetivo deste ensaio é conscientizar e sensibilizar o
leitor sobre as possíveis repercussões da falta de moralidade na ciência,
levando-o a refletir o quão longe é correto a humanidade ir nesta busca pelo
conhecimento (não há nada exagerado em ser cauteloso quando se trata de “playing
god”).
3. A humanidade está agora a sair da sua fase adolescente. Nas
últimas décadas estamos a descobrir mais sobre o mundo à nossa volta do que nos
últimos milénios e com suficiente tempo iremos acumular conhecimento que chegue
para nos tornarmos os deuses que em tempos temíamos. Claramente a humanidade
têm-se mostrado capaz de lidar com esse poder, à exceção do aquecimento global,
fome a nível mundial, a bomba nuclear, a primeira e a segunda guerra mundial, o
holocausto, pôr em perigo a vida de um milhão de espécies e DESTRUIR O SEU
PRÓPRIO MUNDO… Talvez nós não estejamos tão prontos como pensamos e é por isso
que ensaios filosóficos desta natureza são importantes: para nos ajudar a
perceber o quão longe devemos ir em nome do desenvolvimento humano.
4. Ao longo deste ensaio procurarei defender que de um ponto
de vista moral a humanidade não deve tentar usar a engenharia genética para
acabar com o sofrimento psicológico humano.
5. Esta
nossa posição parece contraintuitiva: se é possível acabar com sentimentos
negativos, porque não fazê-lo? A resposta a tal pergunta situa-se
maioritariamente em dois pontos: 1. A engenharia genética é extremamente
perigosa e 2. é uma má ideia a longo prazo.
a) Há cerca de 27 anos nasceu a Dolly, o primeiro
mamífero a ser clonado pelo Homem com sucesso. Dolly morreu em 2003, com 6 anos,
de uma doença pulmonar grave. A razão para a sua morte precoce (tempo de vida
de uma ovelha, é há volta de 20 anos), foi, como esperado, o facto da mesma ser
um clone. Esta clonagem foi feita ao transplantar o núcleo de uma célula
somática para uma célula embrionária, sem em nenhuma das fases se mexer no DNA,
e já teve as complicações que teve, imaginem os problemas que podem surgir com
a modificação genética num ser tão complexo como os seres humanos.
b) A evolução humana é algo extremamente interessante. De
acordo com a teoria de Darwin, todas as características que temos foram
selecionadas pelo ambiente, ou seja, de alguma forma, davam-nos uma vantagem na
sobrevivência nesse meio. Logo, sendo a tristeza e outros sentimentos negativos
algo que todos os seres humanos partilham, podemos assumir que eles ou a certo
ponto nos davam essa vantagem, ou são uma consequência de algo que nos deu a
vantagem. No entanto, o ambiente humano tem vindo a mudar bastante nos últimos
séculos e poder-se-ia dizer que devido a isto a miséria passou a ser obsoleta
nos dias de hoje. Contudo, eu descordo dessa afirmação pois há certas emoções
negativas que são necessárias a todos os seres humanos, como por exemplo o luto,
que nos ajuda a processar a nossa perda, ou sentirmo-nos úteis no final do dia
inteiro sem fazermos nada, que nos ajuda a sair de casa e a interagir, ou mesmo
o aborrecimento, que é o cérebro a pedir para ser estimulado (muitas vezes com
ideias interessantes, pois as maiores ideias do homem têm raízes no
aborrecimento), para não esquecer o tipo de dor mais importante: o
descontentamento. O sentimento que nos diz que nada será bom o suficiente é o
mesmo que forçou o homem a trocar as cavernas pelas civilizações, gritos por
linguagem, e o papel pelo computador. A dor é um pequeno preço a pagar pelo
prazer que a mesma nos dá. Logo, mesmo que a curto prazo a ausência de dor seja
um alívio, a longo prazo as consequências que a mesma nos dá foi um dos maiores
presentes que a humanidade alguma vez recebeu (obrigada evolução!).
6. A
tais argumentos poderiam objetar que há certas doenças, como por exemplo a
depressão e a ansiedade, que não apresentam nenhuma vantagem biológica, tratando-se
de erros da evolução, e nesses casos era lógico intervir.
7. Apesar de concordar com a objeção, não mudo de opinião, devido
ao facto do quão perigoso e complicada a engenharia genética é. Não há nenhum
único gene para cada característica, não há nenhum gene de beleza, altura, ou
inteligência, e eles não podem ser simplesmente ligados e desligados sem afetar
mais nada ou sem haver consequências horríveis. Existe um grande risco de fazermos
alterações no genoma humano horrendas que só iriam ficar aparentes em gerações
mais tarde. Temos também a possibilidade de serem criadas (por acidente ou de
propósito) vírus resistentes a medicamentos que serão praticamente impossíveis
de erradicar, ou mesmo um grupo de nós pode obter a tecnologia e criar um género
de humanos totalmente separado com o qual não podemos competir em nenhum
aspeto. As chances são infinitas e raramente positivas e não devemos arriscar a
possibilidade da nossa aniquilação pela possibilidade de poder (e, se não era óbvio,
de acordo com o utilitarismo de Stuart Mill, devemos tentar evitar ao máximo a morte
e o sofrimento em massa).
8. Concluo
reafirmando o quão errado é a manipulação genética para alterar o genoma humano,
acrescentando apenas que este ensaio não vai mudar nada, pois raras foram as ocasiões
que a Ciência se importou com a moralidade, desde as vezes em que corpos foram
desenterrados das suas campas por estudantes de medicina ou quando foram usadas
escravas negras para estudo do sistema reprodutor, a Ciência tem provado que se
tu tiveres problemas em passar as barreiras daquilo que é demasiado cruel,
outros escalaram tais paredes com um sorriso. Mesmo que moralmente seja errado,
a Ciência continuará a evoluir com pouca preocupação pela segurança humana.
Fontes/Webgrafia:
·
https://www.youtube.com/watch?v=n__42UNIhvU
·
https://apfilosofia.org/ensaio-filosofico/
·
https://dosfilosofos.blogspot.com/p/ens-filosofico.html
·
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ovelha_Dolly
·
https://en.wikipedia.org/wiki/Zhong_Zhong_and_Hua_Hua
·
https://pt.wikipedia.org/wiki/Dale_Carnegie
·
https://pt.wikipedia.org/wiki/Adapta%C3%A7%C3%A3o_hed%C3%B3nica
Blogue dedicado a questões de natureza filosófica e de apoio à disciplina de Filosofia do Ensino Secundário (10º e 11º Anos). Ângelo Rodrigues é docente QE do Grupo 410 (Filosofia) da Escola Secundária Fernão Mendes Pinto e colabora pedagogicamente com o Externato Gil Eanes. Foi Delegado Sindical da Escola Cacilhas Tejo e é Membro do Conselho Geral do SPGL. (Blogue criado em julho de 2019).
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