Vamos, de forma breve, ver quatro diferenças
entre as éticas de Kant e de Stuart Mill.
Diferença nº 1: metafísica vs. naturalismo
O imperativo categórico kantiano expressa uma lei moral que, de acordo com o filósofo, a nossa razão pode descobrir em si mesma antes de qualquer dado da experiência. O ponto de partida de Kant é metafísico, palavra grega que significa para além da física. A razão pura que há em cada um de nós descobre, por si mesma, a lei moral. Pelo contrário, nada disto interessa a Stuart Mill. Para o nosso amigo britânico, um firme naturalismo deve presidir ao nosso pensamento: o ser humano não está acima da natureza, mas faz parte dela. Uma proposta ética funcional deve basear-se nas experiências concretas do ser humano.
Diferença nº 2: motivos vs. consequências
De boas intenções está o inferno cheio, diria Stuart Mill, pensador consequencialista. Para este filósofo que foi também funcionário da Companhia das Índias Orientais Britânicas, o critério de uma boa ação reside nas consequências que a mesma gera e, dentro destas, o que se pretende é a felicidade geral. Pelo contrário, para Kant, o critério de uma boa ação reside nos motivos da ação. E apenas um motivo é verdadeiramente moral: o puro respeito pelo dever - por isso se trata de uma ética deontológica.
Diferença nº 3: razão vs. sentimento
Para Kant, homem tão pontual que as senhoras da sua vila acertavam o relógio pela hora a que ele dava o passeio depois da sesta, razão e sentimentos são bem diferentes e a ética exige a vitória da razão. É o domínio racional dos nossos interesses e instintos que conduz a uma vida ética. Ser ético é ser racional. Ao invés, para Mill, a razão tem um papel de cálculo e de balanço mas a finalidade ética por excelência é a felicidade que, sobretudo para os hedonistas, é um sentimento.
Diferença nº 4: regras morais absolutas vs. regras morais que admitem exceções
O imperativo categórico leva-nos a que as regras morais representadas por máximas universalizáveis sejam absolutas: não há exceções. Pelo contrário, o princípio da utilidade faz com que as regras morais dele derivadas possam encontrar exceções. Numa situação invulgar em que não saibamos muito bem como aplicar a regra ou em que haja, até, uma contradição entre regras morais, suspender excecionalmente uma regra moral pode conduzir a uma maior felicidade geral, argumentam os utilitaristas.