Blogue dedicado a questões de natureza filosófica e de apoio à disciplina de Filosofia do Ensino Secundário (10º e 11º Anos). Ângelo Rodrigues é docente QE do Grupo 410 (Filosofia) da Escola Secundária Fernão Mendes Pinto e colabora pedagogicamente com o Externato Gil Eanes. Foi Delegado Sindical da Escola Cacilhas Tejo e é Membro do Conselho Geral do SPGL. (Blogue criado em julho de 2019).
terça-feira, 21 de novembro de 2023
segunda-feira, 20 de novembro de 2023
sábado, 18 de novembro de 2023
DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA - Celebração - 17 de novembro
«A Escola de Atenas (Scuola di Atene no original) é uma das mais famosas pinturas do renascentista italiano Rafael e representa a Academia de Atenas. Foi pintada entre 1509 e 1510 na Stanza della Segnatura sob encomenda do Vaticano. A pintura já foi descrita como "a obra-prima de Rafael e a personificação perfeita do espírito clássico da Renascença".
Fonte: Wikipédia
«Em 2002 a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia, como resultado da necessidade da humanidade refletir sobre os acontecimentos atuais, fomentando-se o pensamento crítico, criativo e independente, contribuindo assim para a promoção da tolerância e da paz. Desde então este dia é celebrado em todo o mundo na terceira quinta-feira do mês de novembro, que este ano teve lugar a 17 de novembro.»
Para mais informações consultar www.apefp.org e/ou contactar: apefp2008@gmail.com
Fonte (texto retirado daqui):
https://www.dge.mec.pt/noticias/ensino-secundario/dia-mundial-da-filosofia
A cada ano que passa o grupo disciplinar de Filosofia proporciona um dia, umaDia Mundial da Filosofia
A relação e experiência de juntar o pensamento com a música
aula, uma atividade aos alunos que desloquem o seu pensamento para um problema
do mundo atual, ou para áreas específicas da Filosofia que alarguem os seus
horizontes de cidadania e de reflexão crítica sobre a condição humana. Este ano o
convite lançado aos alunos passou por pedir-lhes que, a partir da música, de uma
música por eles escolhida, pudessem refletir sobre o seu conteúdo e o relacionassem
com as áreas da Filosofia por meio de argumentos. Cada turma decoraria, como
entendesse, a sua sala e em cada aula dinamizar-se-ia uma sessão de Filosofia com (a)
música. As diferentes dinamizações seriam, posteriormente, apresentadas à
comunidade, na entrada principal, com fotografias de cada grupo-turma.
Porquê a música? A música é uma componente do currículo destacada como
fundamental, pelo menos desde Platão, que a considerou, a par da Matemática e da
Ginástica, parte da formação do cidadão. Atualmente os currículos contemplam, em
parte, o seu ensino, mas presentemente a salvaguarda do seu valor educativo para o
espírito humano passa pela referência que o Perfil dos Alunos atribui à componente da
sensibilização estética.
Com efeito, o espírito humano não é apenas razão. A dimensão do sentido é
mais funda, ainda que sempre ancorada nos princípios da racionalidade. Na categoria
do que faz sentido e, está para além da razão ou da racionalidade, podemos e
devemos incluir as antinomias da razão, ou por outras palavras, os impasses que
aquela não consegue deslindar, a saber, razão e afeto e intelecto e sensibilidade.
Quando abarcamos o que está para além da razão e tocamos na esfera do significado,
percebemos que é fundamental incluir o concreto e o sensível, já que o sentido não se
encontra apenas e exclusivamente na dimensão semântica ou significativa. Carecemos
de significantes que conduzam o pensamento para o mais remoto e difícil de
comunicar, mas que faz parte e concede sentido à existência humana. É precisamente
por isso que a música nos interessa, interessa desde sempre à Filosofia. Pensar a
música e com ela, é pensar o mistério da condição humana. Pelo menos dois autores
contemporâneos lembram-nos isso de forma inequívoca, Lévi-Strauss que escreveu
sobre Wagner e George Steiner. Este último afirma na sua obra Presenças Reais -
“Perguntar “o que é a música?, pode ser muito bem uma maneira de perguntar, “o que
é o homem?”.
Strauss apercebemo-nos que para este filósofo há, a par do paradigma não-sensível do
conhecimento humano - que os nossos alunos conhecem por estudarem Descartes e o
paradigma da explicação racional da realidade -, outro paradigma que não pode ser
desvalorizado e a que dá o nome de uma flor “amor-perfeito selvagem”, que se
contraiu na designação “pensamento selvagem”. Este saber é aquele que obtemos
“pela apreensão direta, mas ordenada, dos dados da perceção sensorial.” Estas
palavras de Lévi-Strauss na obra Mitologias de Wagner têm que ser reunidas às do
pensamento de Locke que nos recordava que as qualidades secundárias – odores,
cores e sons - podem e devem ser integradas na lógica de compreensão do real fora de
nós. É evidente que a construção do sentido passará, sendo assim, por integrar a
matéria sensível que afeta a nossa sensibilidade, numa lógica de sentido não
estritamente racional. Para isso conseguirmos usamos o que é o pensamento
analógico que consegue um esquema de codificação que dá densificação ao conceito,
exprimindo mais amplamente o sentido e a significação que cada um de nós tem de
encontrar para a vida humana e sente, por exemplo, aquando da experiência de
escutar uma canção ou escutar uma música.
Por algumas razões, que descobriremos com os alunos e com as suas análises
durante a semana de 20 a 24 de novembro de 2023, a música é, como lembra Steiner,
“uma linguagem primeira, imediatamente compreensível a todos e intraduzível por
qualquer outro idioma. O discurso vem depois da música, já antes do caos de Babel, o
discurso fazia parte da queda humana. (...) Não foi por acaso que os dois espíritos
visionários mais sensíveis à crise da ordem clássica, Kierkegaard e Nietzsche, viram a
música a expressão essencial da energia e do sentido.”
A ordem clássica exclusivamente assente na razão ruiu, porque o homem não
encontra o sentido apenas no que tem lógica ou é verdade, mas no que tem a força do
sentido, como a beleza, a bondade e a justiça. O nosso objetivo foi corroborar, na
celebração deste dia com os alunos e com estas atividades, a experiência de sentido
para a vida humana que os alunos têm e fazem regularmente com a música. Levá-los a
perceber que ela será sempre um veículo para eles pensarem a vida e a sua condição,
a nossa condição tão em questão pelo que estamos todos a viver com várias ameaças a
cercar a nossa compreensão de nós mesmos, a guerra e a inteligência artificial.
Pensamos que essa reflexão poderá deixar no aluno a memória de uma
experiência indelével em que este se apercebe que há esferas da vida humana onde
ser-se, é ser livre. “Trata-se da dimensão onde nos encontramos com a música, a arte e
a literatura.” (Steiner, op.cit.)
A música, a par da Filosofia, oferece sempre aos que a experimentam e a
exercem, com a sensibilidade e a razão, uma dádiva. Essa dádiva traduz-se numa forma
única e singular de pensarmos quem somos e o sentido da nossa vida, porque a
música, quando ligada com o pensamento, não nos faz sentir o corte que praticamos
com a vida quando a instrumentalizamos, a contemplamos ou a amamos. Nessas
experiências, a vida é sempre o que está diante de nós. Com a música, a vida corre e
flui dentro de nós e o pensamento flui no seu elemento natural, como o peixe na água,
a ideia desliza pelo ritmo ou pela melodia, numa unidade de som e significante, de som
e semântica.
Grupo de Filosofia
Novembro de 2023
quarta-feira, 15 de novembro de 2023
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