Um Pensamento Por Dia Não Sabe O Bem que Lhe Fazia
Dia 17 de novembro de
2022
Nesse sentido,
quando se pensou no que fazer para assinalar este Dia Mundial da Filosofia pensámos na possibilidade de
provocar a comunidade que nos visita e de lhes oferecer parte de um legado e de
uma tradição que é essencialmente um património de problemas, de teses, de argumentos,
mas também de práticas de vida.
Surgiu
recentemente, a partir da obra de Hadot e Foucault, uma tentativa de recuperar
a Filosofia não apenas como sistema de ideias, ou conceções teóricas, eruditas
ou adstritas a especialistas sobre a vida. Partindo dos Antigos e, em
particular, dos Estóicos, dos Epicuristas, dos céticos e do neoplatonismo,
recupera-se a ideia de que a Filosofia é também uma prática de vida.
Sellars,
Michael Chase, Julia Annas, Michael Ure ou Keith Ansell, para já não falar da
mais conhecida de todas, Martha Nussbaum, partem em muitos dos seus ensaios, de
questões como as que aparecem formuladas na introdução de uma obra que foi
lançada há pouco tempo no nosso país:
“E se a
verdade que os filósofos procuram não fosse somente um corpo de conhecimentos
teóricos sobre o mundo, mas uma verdade capaz de transformar-nos eticamente? E
se além de ser estudada, ensinada, aprendida, a Filosofia tivesse uma
potencialidade prática e performativa, capaz de responder às inquietações mais
profunda dos indivíduos e de operar uma transformação nos modos de ser, estar e
viver no mundo?” (Filosofia como Modo de Vida – Ensaios Escolhidos, numa
organização de Federico Testa e Marta Faustino, 2022, p. 13)
Nesse sentido,
o mote deste ano, influenciado pela leitura desta obra, foi um pensamento
por dia não sabe o bem que lhe fazia, tendo os professores pedido aos seus
alunos que escolhessem um que influenciasse a sua maneira de pensar e agir.
Deviam escrever esse pensamento num postal que perdurará durante algum tempo
nas suas salas, à maneira de sentenças e imperativos para o pensamento e para a
ação e, numa fase posterior, possam ser dados a quem visite a comunidade
educativa que é o Agrupamento. Reparando, com alguma atenção, no breve
comentário que fizeram sobre a frase escolhida, percebemos que a importância dessas
citações se prende com a necessidade de mudar de vida, de alterar o olhar sobre
as coisas do mundo, encontrando intuitivamente os alunos, na Filosofia, um
impulso para agir no real e para a conversão da sua ação em nome de valores, da
ética, ou da procura da vida feliz. A propósito disso lembramo-nos da afirmação
de Nietzsche que disse que o teste para a filosofia consistia em saber se conseguimos
viver de acordo com ela.
Ao expressar e
escrever isto, Nietzsche estava a dizer que a Filosofia não pode fechar-se num
corpo de abstrações e desligar-se da vida e de uma articulação entre um modo de
pensar e de agir, de uma transformação do pensamento e de si mesmo.
Assim, este
ano, oferecemos à comunidade a densidade filosófica que se pode encontrar num
conjunto de frases que não têm necessariamente que ser de filósofos – mas
expressam uma reflexão sobre a vida – acompanhada de anotações pessoais que se
constituem, como acontecia com os Antigos, como exercícios espirituais para
viver melhor e bem, feliz. E, para evocar outro filósofo no dia deles, Diderot
fazia hypomnémata, registos de citações, para a memória guardar essas
sentenças memoráveis e máximas práticas e para que as ideias estivessem sempre
à mão de semear, não vá a vida pedir uma mão a quem pensa!
E ela pede. É
essa mão que a Filosofia oferece ao pensamento e à vida.